domingo, 15 de março de 2009

O círculo, ou o zero, ou o nada, ou o silêncio, ou o caminho, ou o regresso...

“Se o olho não fosse como o sol, ele não poderia ver o sol”. (Moacanin,1986.)

“O homem quando se transcende anda em círculos ou volta sempre ao mesmo lugar?”

“A lei do mundo é o movimento, a lei do centro é a quietude. Viver no
mundo é movimento, actividade, dança. Nossa vida é um dançar
constante ao redor do centro, um incessante circundar o Uno invisível
ao qual nós – tal como o círculo – devemos nossa existência. Viemos
do ponto central – ainda que não o possamos perceber – e temos
saudades dele. O círculo não pode esquecer sua origem – também
sentimos saudades do paraíso. Fazemos tudo o que fazemos porque
estamos à procura do centro, do nosso centro, do centro.”
(Thorwald Dethlefsen, 1984.)

O que é o espaço? - Ana Hatherly

O que é o espaço
senão o intervalo
por onde
o pensamento desliza
imaginando imagens?

O biombo ritual da invenção
oculta o espaço intermédio
o interstício
onde a percepção se refracta

Pelas imagens
entramos em diálogo
com o indizível

A matéria das Palavras - Ana Hatherly

Estamos aqui. Interrogamos símbolos persistentes.
É a hora do infinito desacerto-acerto.

O vulto da nossa singularidade viaja por palavras
matéria insensível de um poder esquivo.

Confissões discordantes pavimentam a nossa hesitação.
Há uma embriaguês de luto em nossos actos-chaves.

Aspiramos à alta liberdade
um bem sempre suspenso que nos crucifica.

Cheios de ávidas esperanças sobrevoamos
e depois mergulhamos nessa outra esfera imaginária.

Com arriscada atenção aspiramos à ditosa notícia de uma
perfeição
especialista em fracassos.

Estrangeiros sempre agudamente colhemos os frutos discordantes.

Um rio de Luzes - Ana Hatherly


Um rio de escondidas luzes
atravessa a invenção da voz:
avança lentamente
mas de repente
irrompe fulminante
saindo-nos da boca

No espantoso momento
do agora da fala
é uma torrente enorme
um mar que se abre
na nossa garganta

Nesse rio
as palavras sobrevoam
as abruptas margens do sentido

Regresso - Um ritmo perdido...


"Se uma pausa não é fim, e silêncio nâo é ausência..."

"Se uma pausa não é fim
e silêncio nâo é ausência,
se um ramo partido não mata uma árvore,
um amor que é perdido,será acabado?

um ouvido que escuta
uma alma que espera...
-uma onda desfeita
É ou já não era?

Nuvem solitária,
silenciosa e breve,
nuvem transparente,
desenho etéreo de anjo distraído...

nuvem,
esquecida em céu de esperança,
forma irreal de sonho interrompido..

nuvem,
luz e sombra,
forma e movimento,
fantasia breve de ânsia de infinito...

nuvem que foste
e já não és:
desejo formulado e incompreendido"